Francelina mais uma vítima do HRT em Tefé |
A paciente esperou das cinco da manhã até o final do dia e falecer no centro cirúrgico
Revolta e tristeza. Estes são os adjetivos que melhor definem o sentimento da família de Francelina Cordeiro Rock, 30. A jovem, que contou com o atendimento da rede pública de saúde durante todo o seu pré-natal não teve a mesma felicidade justamente no dia mais importante de sua gestação: o dia do nascimento de seu bebê. A nobre e alegre concepção da vida que representa o parto revelou para a família de Francelina Cordeiro, sofrimento, frustração e dor. A família conheceu de perto o lado mais perverso do serviço público: a omissão.
E o que seria um simples parto cesariano acabou se transformando em um grande pesadelo para a família da jovem, que teve negado, não só o direito da concepção da vida como teve sua vida interrompida.
De acordo com o esposo da vítima, Francisco Bernardo Gomes, 33, ao levar a esposa para o Hospital Regional de Tefé, o médico César Gonzales Saci, teria proposto realizar a cirurgia da esposa na Clínica Climed, de propriedade de José Rodrigues, atual diretor do Hospital Regional. O valor da cirurgia seria de R$ 3.500,00, como Gomes não aceitou a proposta, o valor caiu para R$ 2.000,00, mas a cirurgia seria realizada no próprio hospital.
Ao questionar o médico a respeito da cobrança, ele teria dito que o caso da paciente não seria simples e por isso a cobrança. Não aceitando, Gomes foi orientado pelo médico a retornar para sua casa, recebendo dele o número de um celular e um telefone fixo para contato, caso mudasse de ideia. A anotação foi feita em um receituário timbrado do Hospital Regional de Tefé e com a antiga logomarca da prefeitura do município. “Minha esposa reclamava de dor, eu pedia para que ela fosse operada e não me deram atenção. Ficamos das cinco da manhã até o final do dia, quando ela finalmente entrou para o centro cirúrgico”, disse o esposo da vítima.
Um médico que não quis se identificar disse que dar plantão em Tefé é um sério risco para o profissional. Segundo ele, a quantidade de paciente é muito grande para o número de médicos de plantão, no máximo dois, geralmente é apenas um e que o os auxiliares são insuficientes e muitas vezes despreparados para o exercício da função. Outro problema grave relatado pelo médico é a auto-suficiência de alguns profissionais auxiliares. “Já houve caso de eu recomendar uma medicação e o auxiliar aplicar outra”, disparou.
Há menos de um mês a vítima no Hospital Regional de Tefé foi Rosiane Tavares da Silva, 24. A família questionou o atendimento e o tratamento recebido pela paciente durante as três horas que antecederam o seu óbito. Rosiane era suspeita de Dengue. O material coletado para esclarecer a morte da paciente foi extraviado. De acordo com a direção do hospital, o frasco que continha o material coletado para a realização dos exames quebrou durante a viagem para Manaus. A família não aceitou a versão do hospital e acionou a justiça.
O médico César Gonzales Saci negou as acusações da família da vítima. Ele admitiu que a anotação dos telefones eram dele, mas argumentou que seriam para um eventual exame de ultrassonograia oferecido por ele à família. “Eu tenho um aparelho de ultrasson”, disse. Mais tarde o médico acabou dizendo que tem um aparelho, mas que nem se encontra funcionando.
Procuramos a direção do hospital para se manifestar sobre o caso, mas fomos informados de que o diretor havia saído. Ao chegarmos no local constatamos que havia apenas um médico para atender todo o hospital e um outro de sobreaviso para os casos de cirurgias.