21 de set. de 2010

Estiagem em Tefé já dá indícios de prejuízos




A seca aumenta as áreas de praia, mas causa prejuízo para a população

O fenômeno El niño é considerado o grande responsável pelas mudanças nos regimes de chuvas na região Amazônica.

De acordo com especialista, o El niño são alterações significativas de curta duração (12 a 18 meses) na distribuição da temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico, com profundos efeitos no clima. Estes eventos modificam um sistema de flutuação das temperaturas daquele oceano chamado Oscilação Sul e, por essa razão, são referidos muitas vezes como OSEN (Oscilação Sul-El Niño – ver abaixo). Seu papel no aquecimento e arrefecimento global é uma área de intensa pesquisa, ainda sem um consenso.

Os municípios que mais sofrem são os das calhas do Juruá, mas os municípios do Solimões também já começam a amargar as consequências da estiagem. A pior situação é de Benjamin Constant.

Em Tefé, o lago de Tefé está parcialmente vazio e a travessia para a comunidade de Nogueira, principal acesso para o município de Alvarães está comprometida. O acesso agora só se dá pelo Solimões, o que implica em mais tempo de viagem e aumento no preço da passagem, que aumentou de R$ 20,00 para R$ 30,00 (ida e volta). Resultado negativo também para os estudantes do município que estudam em Tefé...

O lago do Xindarini está completamente vazio. A travessia para o bairro do Abial, que normalmente é feita até esta época do ano de catraia agora é possível até de moto.

Ruim para catraieiros.

Para Luciana Cordeiro dos Santos, funcionária da Colônia dos Pescadores, Z4, a seca deixa mais longo o percurso de travessia. “É difícil a travessia. Durante o dia é muito calor, à noite, pra mim, como mulher, é perigoso, a iluminação é pouca. Prefiro o rio cheio às facilidades da seca.

Ruim também para o catraieiro Marcos Damasceno Fernandes, 25, há três anos na profissão. Com a seca ele foi obrigado a parar. “Agora o jeito é esperar o rio encher”, declarou.

Gilmar Willian Gomes Veloso, o Preto, gerente do frigorífico Frigopeixe, a fábrica do Papi, a seca está trazendo muitas dificuldades. Segundo ele, houve uma queda na produção porque os lagos secaram muito e dificultou o acesso ao gelo. “Estamos tendo dificuldade na retirada do peixe, na venda do gelo. Tivemos que montar outra estratégia para poder vender o gelo”, explicou.

Preto disse ainda que com a diminuição da produção, cerca de 50 pessoas tiveram que ser dispensadas. “Nós contratamos conforme a produção, se ela diminui as demissões são inevitáveis”, afirmou.

Mas se a seca para a maioria é sinônimo de prejuízo, para o cobrador Arlindo Maurício da Silva e para o montador Carlos Vilena, ambos funcionários da Ciclomóveis, a seca facilitou os seus trabalho. “Venho ao Abial pelo menos duas vezes por semana, agora posso vir de moto, isso facilita o meu trabalho”, disse Arlindo.

Bom também para os peladeiros de várzea, que durante a seca utiliza os espaços às margens e lagos e rios para praticar o esporte preferido, o futebol. Com a forte estiagem as áreas para a prática do futebol aumentaram significativamente.

Fotos acima: Lago de Tefé, Ponte do Abial e Lago do Abial.


MP determina a exumação do corpo de Oscar Amora

O caso agora deverá ser esclarecido -Novos resultados deverão sair em um mês

Por determinação do Ministério Público (MP), da Comarca de Tefé, foram exumados no início da semana os corpos de Oscar Amora, morto em uma cela da delegacia civil há 5 meses e de Adriano Pinto Bezerra, morto há 2 anos, teoricamente por afogamento, no bairro do Abial.

Uma equipe composta por um perito legista, um perito criminal, um delegado, um investigador, um escrivão e um técnico em necropsia deverá por fim ao mistério da morte dos exumados, cujas famílias suspeitam de homicídio.

O corpo de Oscar Amora foi conduzido para Manaus, onde passará por uma perícia minuciosa.

De acordo com o Promotor de Justiça Darlan Benevides de Queiroz, a exumação é um procedimento previsto no Código Penal Brasileiro que serve para tirar dúvidas ou confirmar informações que constem ou que eventualmente não constem e que deveriam constar no exame de corpo de delito feito no momento da morte da vítima. “São perícias que o Código Penal prevê e que ajudam a esclarecer os fatos”, explicou.

O Promotor afirmou ainda que o pedido dos autos do processo para a Delegacia Geral em Manaus foi feita por ele e que a decisão do MP permitirá uma apuração longe dos fatos, de forma que não haja pressão sobre testemunhas, sobre a família e para que os fatos sejam apurados de forma isenta.

Segundo o advogado da família de Oscar Amora, Marcelo Rodrigues dos Santos, o Laudo preliminar foi incisivo em atestar a causa da morte de Oscar como traumatismo craniano e que as fotos tiradas pela família da vítima denunciam que houve antes da morte da vítima um crime de tortura.

O advogado afirmou ainda que as investigações estão tendendo para o sentido de que houve uma simulação da polícia civil, que segundo ele, modificou toda a cena do crime, que a polícia não realizou uma perícia no local do crime e que isso tudo é objeto de investigação pelo MP, detentor da Ação.

Santos afirmou que em Manaus a vítima será submetida a um exame minucioso e esclareceu que o laudo que será feito na capital não tem cunho de confronto com o que foi feito em Tefé, mas que servirá para fortalecer o resultado que indica traumatismo craniano e que desmente a versão de suicídio apresentada pela polícia de Tefé.

“O que ficou flagrante nesse processo é que a polícia civil cometeu um erro grave. Ainda que a tese de suicídio defendida por ela esteja correta, houve um crime de omissão por não ter prestado socorro no momento em que o preso estaria se debatendo na cela como ela mesma afirma. Não havia no local um delegado de plantão, um escrivão e em tese na hora que o Amora estaria se debatendo, em pleno enforcamento, não houve nenhuma ação da polícia para evitar o teórico suicídio, então, no mínimo, nós temos um crime de homicídio culposo”, afirmou.

Elizabeth Amora, irmã de Oscar criticou duramente o Delegado que conduziu o processo da morte do irmão, Robson Almeida de Siqueira, na época titular da 5ª Delegacia Regional de Polícia Civil, porque, segunda ela, há uma versão na delegacia de que Oscar teria sido preso durante a Festa da Castanha no ano passado e que, de acordo com um guarda municipal, ele teria tentado se suicidar e que a ação teria sido evitada por colegas de cela. O delegado descreveu assim no inquérito:

“...Desta vez ele uniu o útil ao agradável, estava sozinho na cela.

Fazer o que? Temos de respeitar as decisões das pessoas de se matarem, principalmente em se tratando de meliante. Só quem ganhar é a sociedade. Que bom se todos os meliantes se matassem. Seria um alívio para sociedade. De preferência que não fosse dentro da Delegacia e que deixasse um bilhete de despedida...”.

As declarações do delegado irritaram profundamente a família da vítima. De acordo com Elizabeth Amora, o delegado foi desumano, irônico e não respeitou a dor da família.

“Ele esqueceu que estava escrevendo as páginas de um inquérito, agiu de forma sínica, ridícula e desumana. Meu irmão gozava das mesmas prerrogativas que qualquer cidadão goza e não poderia ser punido com pena de morte, muito menos por quem tem o dever de protegê-lo”, desabafou.